quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Dear Cecília - Pacato Domingo




Para Dear Cecília “Boemia é o momento no bar da esquina”. Fuma imaginariamente, bebe e vive domingos em bar, sozinha ou com amigos homossexuais. Sempre na tentativa de se apaixonar por alguém. Lhe agradam muitos tipos: sérios, altos, meninos, rudes. Magra e alta. Vestimenta clássica até demais para 20 anos de idade. Só de passar seu batom carmim ela é capaz de arquitetar as mais complexas cenas épicas de amor.

‘Querida Cecília’ é por conta do amor próprio que por si supre, por conta de seu amargo passado afetivo. Não se recorda ao certo quando passou a ser querida, mas sabe que essa é a forma mais correta de chamá-la. Mora na cidade, mas sonha rotineiramente com o campo e sua áurea lúdica. A extensa grama verde convidando a um pique-nique. Os lagos pedindo um mergulho profundo... A floresta aberta de galhos secos acompanhadas de um livro e um bom romance.

“Cidade Média é a pior invenção do mundo. Não chega a ter o calor de uma metrópole e tampouco a ‘intimidade’ de uma cidadezinha interiorana”. Opiniões fortemente lançadas juntos a um olhar semicerrado e um sopro de fumaça (imaginário) de menta, de um cigarro caro. Piteira manchada de vermelho vivo tal como sangue. Lábios colantes, sempre. Descolando de tudo, sempre. Dear Cecília, uma mulher de coração vivido.

E não havia de ser diferente em um domingo igual. O bar que toca jazz na rua mais movimentada da cidade estava lá, tocando jazz. Dear Cecília estava lá, junto a um ou dois de seus amigos homossexuais, mirando a todos os homens que estivessem ao alcance de sua vontade. “Mais uma dose de Martini”, pedia. E ainda que estivesse impedida de beber por motivos que não lhes cabe explicar agora, o álcool dava a ela uma perspectiva ainda mais fantasiosa da conquista. Toda a magia parecia triplicar, ainda que nenhum olhar cruzasse com o dela. Era apenas o desejo de desejar a todos, o tempo todo, ao mesmo tempo, sob um mesmo bar e um mesmíssimo olhar provocativo.

Lá de trás, ainda que turva a vista, ela via que um senhor se aproximava. Senhor demais para ser homem. Grisalho, casaco marrom e calça creme. Quanto mais próximo os passos ficavam, o olhar de Dear Cecília ia se esquivando para trás. A proximidade a incomodava. E muito. O jazz pôs-se em segundo plano quando ela já podia ouvir o sapato dele bater o solo com firmeza. Em um estalo musical, ele já estava ao seu lado, dizendo: "Perfumes amadeirados são de muito bom gosto. Gosto de verdadeiras mulheres". Inseguramente atraída por aquilo, ela sabia que naquele momento ele se tornara homem demais para ser visto como,apenas, um senhor.

Dear Cecília estava desconcertada. "A tempos não ouvia tanta convicção". Disse para dentro de si enquanto pedia permissão para se levantar e ir ao banheiro. Precisava ao menos, de um segundo a sós consigo. Para lavar os olhos e tornar a visão clara e objetiva, e retomar ao objetivo comum de todas as noites de domingo. "Eu gosto mesmo é do gosto Eu gosto é da conquista, e só. Só"

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